https://www.youtube.com/watch?v=3SMLinOVi7c
O Magnum Mysterium é um canto responsorial das Matinas do dia de Natal. Ao longo dos séculos vários compositores fizeram as suas versões musicais deste texto. Apresentamos aqui a versão de Frank la Rocca, compositor contemporâneo.
Texto original (latim)
O magnum mysterium,
et admirabile sacramentum,
ut animalia viderent Dominum natum,
jacentem in praesepio!
Beata Virgo, cuius viscera
meruerunt portare
Dominum Christum.
Alleluia!
Tradução (português)
Ó grande mistério,
e admirável sacramento,
que os animais viram o Senhor nascido,
deitado numa manjedoura!
Abençoada Virgem, cujas entranhas
mereceram carregar
o Senhor Cristo
Aleluia!
Esta peça começa como acaba, com suaves murmúrios do coro, sem letra, apenas como que a marcar um caráter de algo misterioso, não muito concreto. Como que uma apresentação do caos do nada, antes da criação de Deus, ou, diríamos, no contexto desta peça, antes de Deus se ter feito homem. E eis que, no meio desse nada, irrompe a letra deste O Magnum Mysterium. O andamento lento, a utilização de dissonâncias, as mudanças de compasso continuam a conferir-lhe um aspeto misterioso. Um pouco mais concreto, mas ainda assim difuso. Apenas como que o canto suave de anjos a descreverem o acontecimento. Eis que, a partir do 4º minuto, podemos começar a sentir uma mudança de tom, que começa ainda de modo muito suave, terno, com a palavra portare referindo-se a Maria que carregou o menino. Assim desembocamos num clímax musical com as palavras Dominum Christum. No meio de algo difuso, ou seja, na história do universo, da humanidade, começamos a ter algo mais concreto, e eis que chega uma confirmação estrondosa, como que a dizer “não estamos a falar de um nascimento qualquer, estamos a falar do Senhor Cristo!”. Mas logo a seguir temos de novo a ternura com estas palavras, que ecoam no silêncio do coração: Dominum Christum. E uma vez mais, a relembrar que Ele está aqui, mesmo no silêncio, mesmo quando aparentemente não está presente: Dominum Christum. Depois de tal notícia, o coro brota num Aleluia final que dá lugar ao caráter misterioso que permeia toda a peça. Se ouvíssemos apenas o início e o fim da peça ficaríamos com a sensação de que tudo estava igual. Mas no meio da história da humanidade, no meio da nossa história, aconteceu e acontece este “grande mistério”.