Esta semana, o Post-It desafia-te a mais uma etapa de caminho quaresmal, numa proposta de rezar o Caminho da Cruz com Jesus. Um caminho que supõe e impõe silêncio. Por isso, “entra no teu quarto e rezo ao teu Senhor…”
Em nome do Pai…
Primeira Estação: Jesus é condenado à morte
Jesus está preso. Vemo-lo de mãos atadas, rodeado de soldados romanos. Está sozinho perante Pilatos, sozinho em defesa do Amor. Onde param os seus amigos, a multidão entusiasmada que o seguia? Será que foi abandonado por todos?
Por vezes, também nós vivemos uma grande solidão. Não fizemos nada de errado mas sentimo-nos como que acusados, julgados ou desprezados, abandonados. É nesses momentos, Deus de Amor, que Te pedimos que nos ajudes a amar quem se afasta de nós, os que nos rejeitam ou dizem mal de nós.
Segunda Estação: Jesus carrega a cruz
Jesus avança no caminho. Está carregado com a cruz, pesado fardo que diz muito daquele que carregou ao longo da vida. Sofre no corpo mas também no coração. Porém, mantém-se no caminho do Amor: não deseja nada além disto.
Por vezes, nos sofremos no nosso corpo: doenças, dores. Outras vezes, é o nosso coração que sofre: discórdia, pecado, caminhar ao encontro da reconciliação torna-se pesado. Deus de Amor, ajuda-nos a ser humildes e a dar o primeiro passo e a reconhecer os nossos erros para nos mantermos a caminho, contigo e com os nossos irmãos.
Terceira Estação: Jesus cai pela primeira vez
Jesus cai.
Depois de dias e dias cheios, Jesus deve ter caído sob o peso cansaço ao longo da sua vida (recordemos a passagem em que dorme no barco a atravessar o mar). Por outro lado, deve ter caído debaixo do peso da falta de fé dos seus familiares e amigos (“Homens de pouca fé”) ou ainda debaixo do peso do ódio, do desprezo, do egoísmo e da maldade humana. E hoje, torna a cair. No entanto, reergue-se e continua o seu caminho, ultrapassando as dificuldades para levar a cabo o seu plano de amor.
Por vezes, tudo nos parece difícil, intransponível. Demasiadas guerras, demasiada miséria, demasiado ódio que põem tantos refugiados a morrer nos nossos mares. E nas nossas vidas, tudo se torna sombrio. O amor parece nunca mais florescer. Ajuda-nos, Deus de amor, a não abandonar o caminho, a não deixar apagar o teu fogo em nós e a reerguer-nos para continuarmos o caminho.
Quarta estação : Jesus encontra sua mãe
O evangelho de João diz-nos que junto à cruz de Jesus estavam Maria e que Jesus sabia que ela lá estava.
Porque é mãe, Nossa Senhora está em sofrimento profundo. Rasgada pela dor só de ver o sofrimento de Jesus, ela porém nunca se queixa nem nunca duvida. Na desgraça, Maria confia!
Ali está e o seu olhar, a sua presença silenciosa e o seu amor reconfortam e apoiam Jesus que, neste momento, já não está sozinho.
Um olhar, uma presença silenciosa, um abraço chegam muitas vezes para nos devolver o ânimo e a coragem que nos faltam. Por outro lado, conseguem reavivar em nós a esperança, a confiança e ajudar-nos a nos ultrapassarmos. Conhecemos isto? Alguma vez recebemos uma simples presença, um sorriso ou um olhar? E, ao contrário, a nossa presença alguma vez reconfortou ou apoiou alguém?
Quinta estação: Simão de Cirene ajuda Jesus a levar a cruz
Simão de Cirene é um estrangeiro. Vem do Norte de África. Para o povo judeu, é um pagão, uma pessoa afastada de Deus. Simão não conhece Jesus e provavelmente nunca ouviu falar dele; a sua história nada tem que ver com a história de Jesus. No entanto, é ele que ajuda Jesus a carregar o seu pesado fardo e, neste dom de si, no seu ultrapassar-se a si-mesmo, torna-se imagem do amor de Deus para Jesus.
Na nossa vida, encontrámos estas pessoas, pequenas imagens do amor de Deus, que sabem tirar tempo para os outros, para os escutar, acompanhar, ou aliviar de um fardo demasiado pesado?
E nós, será que já fomos escuta, entreajuda, dom de nós ou partilha para outros?
Sexta estação: Verónica enxuga o rosto de Jesus
O Evangelho nada nos diz sobre esta mulher de cujo nome significa porém “imagem verdadeira de Deus”. E que faz Verónica? Limpa com profunda ternura o rosto de Jesus, um rosto cansado, cheio de pó e marcado pela dor; no fundo, ela alivia, purifica e dá novo alento a Jesus, ajudando-o a enfrentar o desconhecido. Por este gesto, por fim, põe a claro a importância e o valor que Jesus tem a seus olhos.
Neste mundo de sofrimento, de indiferença, de solidão, Verónica ensina-nos a acreditar na ternura de um Deus sempre presente que se propõe, sem nunca se impor, de um Deus discreto porém íntimo na vida de todos nós.
Ensina-nos, Deus de Amor, a tornar-me cada dia mais como uma pequena imagem do teu amor, e para isso a estender o nosso olhar par os outros, a ver melhor o sofrimento deles, a aliviá-los por pouco que seja.
Alguém alguma vez foi para ti do amor de Deus? E tu, alguma vez o foste para alguém?
Sétima estação: Jesus cai pela segunda vez
Jesus cai de novo para o chão, para onde o pó se apodera da miséria humana… Já não tem força… No entanto, torna a levantar-se. Não se esquece, que mesmo na mais obscura noite, Deus ergue, apoia, leva para a Luz aqueles que O chamam.
No tão difícil caminho do Amor, nós caíremos! Uma vez, duas vez, centenas de vezes… Será pois necessário ver essa mão estendida, sempre pronta a levantar-nos. Será preciso estender a nossa para que no encontro da nossa mão com a mão de Deus, nos deixemos reerguer… Ela levar-nos-á para uma terra “de onde brota leite e mel”.
Oitava Estação: Jesus e as mulheres de Jerusalém
Segundo os relatos do Evangelho, as mulheres de Jerusalém choram ao ver Jesus sofrer no caminho. Jesus diz-lhes para chorar por elas e seus filhos (Lc 23, 28).
Jesus faz um caminho difícil mas de grande beleza. Um caminho que O conduz à Paz, à Luz, à Vida. Ao mesmo tempo, outros perdem-se porque ficam ou ficaram presos a coisas mundanas, incapazes de ver o Amor de Deus e do Próximo, incapazes de ver Deus em Jesus. É sobre estes que há que chorar.
E nós? Vemos Deus em Jesus? Quais são os nossos valores essenciais e que peso têm eles nas nossas vidas?
Nona Estação: Jesus cai pela terceira vez
No caminho do Gólgota, quantas vezes terá caído Jesus? Não sabemos ao certo… O número três é simbólico. Recorda as três tentações de Jesus no deserto (Mt 4,1) mas também as três negações de Pedro (Mt 26,69). Jesus cai e torna a levantar-se. Pedro cai, cai e volta a cair. Terá ele estendido a mão ao Senhor?
Precisamos de cair muitas vezes, de sermos egoístas, de te dizer que não e de te sermos indiferentes antes de nos pormos a caminho para Ti, antes de semearmos um pouco do amor que nos propões, antes de tudo Te abandonar…
Décima Estação: Jesus é despido de suas vestes
Na Antiguidade, a veste era o símbolo da identidade, da intimidade, da própria vida da pessoa. Jesus despido das suas vestes é o Jesus que dá tudo, que abdica de tudo o que lhe sobra. Esquece-se de si-próprio, oferece o seu espaço, a sua vida; torna-se pobre de si-mesmo a fim de que o humano possa conhecer a Deus… Jesus oferece-se generosamente para que a infinita Generosidade inunde a terra…
E nós? Que estamos dispostos a oferecer para que o Amor continue a crescer na terra? Um pouco de tempo? Um primeiro passo para uma reconciliação? Um pedido de desculpas? Uma escuta? Um respeito pelo outro, quem quer que ele seja? Uma partilha? Um acolhimento aos que estão sozinhos? Uma ajuda sem esperar recompensa?
Décima primeira estação: Jesus é cruxificado
As portas da vida parecem estar a fechar-se. Jesus é preso, cruxificado. Não há outras saídas possíveis a não ser a morte. Jesus não resiste, não grita o ódio, a vingança (pelo contrário, pede perdão ao Pai pelos seus carrascos); Jesus não renega Deus. Vive somente e apensas até ao fim, no meio do povo que ama, o belo caminho do Amor, ainda que isso implique sofrer, ainda que isso implique morrer. Pela sua vida oferecida, Jesus grita o Amor infinito que inunda os seus dias, o Amor infinito que procura o coração do homem para n’Ele habitar.
Décima segunda estação: Jesus morre na cruz
Jesus está sozinho. Os homens abandonaram-no. Muitas mulheres estão presentes mas “olhavam de longe” (Mt 27,55; Mc 15, 40). Todos os amigos de Jesus, assim como as mulheres, estavam à distância (Lc 23,49).
Apenas João refere uma presença junto à Cruz: a de Maria e do discípulo amado (Jo19, 25).
Jesus sente-se abandonado por Deus e pergunta-lhe a razão do Seu abandono porque precisa do Seu apoio, da Sua força. Abandona-Se: “Pai, nas Tuas mãos entrego o Meu Espírito” (Lc 23, 46).
Tudo parece ter acabado. E um grande silencia invade a Terra. Porque Jesus morreu.
Décima Terceira Estação: Jesus é descido da cruz e colocado nos braços de Maria
E chove, agora ferozmente. Como nunca até agora se vira chover. Gotas pesadas, espessas, enormes até. E dos olhos daquele trio de gente entorpecida pela dor e que teima em ficar por ali quando todos já foram embora, cai uma outra chuva. Dolorosa, serena, sofrida, silenciosa. Paulatinamente, o corpo suspenso fica mais frio. O sangue é lavado pela água que do céu cai sobre a terra. E chove. Continua a chover. Aumentam as trevas, diminui a esperança. Aumenta o silêncio, diminui a fé. Aumenta a dor, diminui a humanidade.
O corpo é descido, e num derradeiro abraço, o Senhor despede-Se de Maria, aquela graças a quem este Caminho de Amor se tornou possível.
Décima Quarta Estação: Jesus é sepultado
José de Arimateia comprou um lençol de linho e, depois de O embrulhar no lençol, depositou-O num túmulo novo, escavado na rocha.
A rocha significa solidez. A vida de Jesus foi, do princípio ao fim, uma casa construída sobre a rocha. Mas aqui encontramos o fim aparente de uma história, num quadro dramático. Daí a umas horas, rolará uma pedra. Ele ficará deitado sobre uma pedra, embrulhado à pressa num lençol, sem tempo sequer para ser perfumado, sem tempo para honras, na escuridão de um momento que parecerá definitivo. Só que Ele é Filho de Deus. E já poucos contavam com isso…