Há uma certa beleza em olhar para trás e ver o que se fez, o que se perdeu ou o que se ganhou. Mas, arrisco-me a dizer que nada dá mais satisfação do que olhar novamente o caminho percorrido. Principalmente quando este foi longo.
Depois de muitos anos nestas coisas da Igreja e dos encontros com Deus, consegui finalmente fazer uma peregrinação a Fátima a pé. Não deixa de ser interessante que continuamos a ser surpreendidos pelas conclusões que tiramos de um encontro destes (como se o próprio Deus não Se fizesse surpresa sempre…) Por isso é que partilho convosco o que foi este Passo-a-Passo para mim.
A dinâmica de encontro é/foi recorrente. Mas talvez por já ter tido o privilégio de experimentar momentos destes mais vezes, acabou por não ser isso que me tocou mais neste passo-a-passo. É claro que há sempre descoberta, e, confesso, foi muito importante ir, ao longo dos passos, descobrindo não só o Beato Óscar Romero: na sua irreverência, força e humildade; mas também Santo António de Lisboa, o que me ajudou a desconstruir (ou melhor: complementar) uma imagem mais “popular” deste Santo com ideias e palavras mais acutilantes do que estava inicialmente à espera mas sempre cheias de sabedoria.
Ainda assim, o que me marcou mais foi a beleza.
Nós somos, de facto, privilegiados. E quer pelo caminho que se faz, quer pelas pessoas que o “temperam”, foi realmente uma surpresa deparar-me constantemente com a frequência em que a oração na contemplação de coisas simples se proporcionava. Foi isso que foi este passo-a-passo: poder descobrir a presença de Deus em árvores, o Espírito Santo em brisas de vento, a Trindade numas oliveiras, o Próprio Cristo noutra, a Vida no caminho, a família nos amigos e os amigos na família.
Ao fim de tantos anos no Movimento dos Convívios Fraternos a salientar e a chamar a atenção para a importância dos detalhes, acho que esta foi a altura de poder apreciar aqueles que são preparados para mim. E dessa riqueza, repartir com os o que fazem caminho enquanto me aturam…
De facto, fui muito abençoado pelas pessoas que fizeram (e fazem) este caminho comigo. Aqui não acrescento mais nada porque o importante é mesmo isso: se ao princípio dizia que “nada dá mais satisfação do que olhar novamente o caminho percorrido”, explico agora que este passo-a-passo não se tratou de nenhuma “pseudo-vitória” de concretização pessoal, antes a real alegria de um peregrino que descobre a beleza que envolve a estrada e a felicidade genuína que foi (e é) caminhar acompanhado…. “Principalmente quando o caminho é longo.”
Henrique Delfina