Será que já parámos para pensar a nossa vida como se fosse uma casa?
Como é que habitamos o nosso espaço interior? E como é que nos deixamos ser habitados pelos outros e por Jesus?
Se eu fosse uma casa, como é que a descreveria? Que casa é que sou? Como são os meus espaços? Que luz recebo? Quem entra na minha morada?
Do Evangelho de S. Lucas
Porque me chamais ‘Senhor, Senhor’, e não fazeis o que Eu digo?
Vou mostrar-vos a quem é semelhante todo aquele que vem ter comigo, escuta as minhas palavras e as põe em prática. É semelhante a um homem que edificou uma casa: cavou, aprofundou e assentou os alicerces sobre a rocha. Sobreveio uma inundação, a torrente arremessou-se com violência contra aquela casa mas não a abalou, por ter sido bem edificada.
Mas aquele que ouve as minhas palavras e não as pratica é semelhante a um homem que edificou uma casa sobre a terra, sem alicerces. A torrente arremessou-se contra ela, e a casa imediatamente se desmoronou. E foi grande a sua ruína!»
Jesus ajuda-nos a pensar a nossa casa, a nossa vida, também a partir deste Evangelho de S. Lucas. Jesus fala-nos daquilo que é essencial para mantermos a casa de pé. Diz-nos que o fundamental são os alicerces, neste caso, escutar a Palavra de Deus e pô-la em prática, no dia-a-dia, na vida quotidiana.
Quando queremos construir alguma coisa com futuro, alguma coisa que tenha durabilidade e que prevaleça, e se alicerçarmos esse desejo em Jesus, por certo o resultado será muito diferente daquele que seria se alicerçassemos os nossos desejos apenas nas coisas do mundo ou na nossa frágil e insegura condição humana.
Se olharmos para as funções dos espaços da casa e as comprarmos com a nossa vida, percebemos que somos feitos de “camadas”. Há uma camada exterior a nós que é todo o ambiente que nos envolve, é o nosso jardim. Como cuidamos deste espaço à nossa volta? Por que ambiente nos rodeamos? E como é a segunda camada? Como é o nosso “hall de entrada? Que primeira impressão causamos nos outros à nossa volta? Como é o nosso acolhimento?
E quanto mais vamos entrando na nossa casa, quantos mais espaços vamos percorrendo (cozinha, despensa, sala de estar, corredor, casa de banho, escritório e quarto), também mais nos percorremos interiormente e mais ao fundo de nós vamos. Passamos e refletimos sobre a cozinha enquanto área de serviço, que nos lembra os nossos dons, o quanto os pomos a render ou se apenas os deixamos na despensa a passar de validade, sem serem utilizados. Passamos, ainda, pela sala de estar, sendo que esta é vista como um espaço de relações, de grupo, faz-nos pensar exatamente sobre as relações diferenciadas que mantemos nas nossas vidas, com a nossa família, com os nossos amigos, com os nossos colegas da escola/faculdade/trabalho. Será que mantemos relações verdadeiras? Quanto nos dedicamos a elas? Numa casa, habitualmente também temos um corredor que percorre a casa e nos transita de uma parte pública da casa para uma parte mais privada. Será que este corredor é desobstruído e de fácil acesso? Ou será que é difícil chegarmos ao mais fundo de nós porque o “corredor” está impedido (seja com mobília desnecessária ou com projetos inacabados, com desilusões, etc…). Temos, ainda, um espaço de higiene, a casa de banho, que nos lembra a questão do pecado e da reconciliação. Será que andamos a fazer limpezas completas ou limpezas parciais? Será que na nossa vida nos damos espaço para recomeçar? Continuamos a percorrer o corredor até ao escritório, sendo que este é um espaço de trabalho e de projeção. Como é que andamos a investir o nosso tempo? Concentramo-nos nas prioridades ou deixamos que a preguiça vença sobre elas? E por fim, o quarto, o sítio mais reservado, mais intímo. O quarto é um lugar de descanso e de encontro com Deus, um lugar onde repousamos no final e podemos olhar para trás e fazer um balanço do dia, um lugar onde se pretende que acordemos renovados para, na manhã seguinte, podermos sair da nossa casa com vista a um novo dia e novos desafios.
Que homem é que somos? Somos aquele que constroí a sua casa sobre a areia e que, quando sobrevêm as torrentes violentas, deixa que a sua casa seja abalada? Ou, pelo contrário, construimos sobre a rocha e alicerçamo-nos em Jesus que transforma e que renova todas as coisas?
Quando alicerçamos a nossa vida em Jesus, sobre a rocha, percebemos que todas as camadas mais superficiais da nossa vida são transformadas e renovadas por Jesus, que é amor. Deixamos que Jesus faça obras na nossa vida?
Que saibamos todos os dias ir ao nosso quarto, ao mais fundo de nós e deixar que Jesus demula o necessário para nos construir e para nos refazer melhores em cada novo dia.
[adaptado de várias orações de grupo. Obrigada por rezarem comigo.]
Liliana Nabais