Dar um pouco de nós, pode resultar numa coisa grande. Esta frase isolada de um contexto pode ter múltiplas interpretações, mas se procurarmos nos Evangelhos, encontramos muitas experiências disso mesmo. Em cada encontro com Jesus, o pouco que cada um pode dar é potenciado pelo próprio Jesus e resulta em grandes coisas. Importa, então, pensar nos encontros que temos tido com Jesus ao longo das nossas vidas… Onde temos encontrado Jesus? Em que circunstâncias?
Alguns dos encontros especiais que tive com Jesus foram peregrinações, foram grandes momentos de chamada de atenção para aquilo que está à minha volta, onde posso encontrar Deus. Em todas as peregrinações que fiz, há um momento que me é muito querido: o momento de bênção e envio dos peregrinos: “O Senhor dirija o nosso caminho, e o faça prosperar em frutos de salvação. O Senhor nos assista e Se digne ser nosso companheiro. Deus nos ajude a levar a bom termo o caminho que confiadamente agora iniciamos.”. Este momento funciona, pessoalmente, como um ponto de re-início, como se o caminho palpável daquele dia e do dia seguinte voltasse a ser o início da minha relação com Jesus, voltasse a ser um momento de enamoramento. Faz-nos falta que, ao longo da nossa vida, nos enamoremos como da primeira vez ou que, pelo menos, relembremos como é bom enamorarmo-nos!
Às vezes há Evangelhos aos quais fazemos “ouvidos moucos” pelas suas palavras duras. Pessoalmente, considero exemplo disto aquele Evangelho de S. Lucas que nos diz que “as raposas têm tocas e as aves do céu têm ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça” (Lc 9, 58)). Quem quer seguir Jesus, tem de ser desprendido, tem de se deixar enamorar pelos passos caminhados ao Seu lado, tem de aprender a largar as certezas humanas que acabam na ponta do nariz para se entregar à beleza. Encontrar Jesus ao longo da vida, encontrar Jesus no caminho da vida, encontrar Jesus em peregrinação significa não se deixar incomodar pelo silêncio do caminho e ter a certeza que o barulho dos ténis sobre os trilhos são passos dados com Jesus que nos faz chegar mais perto da santidade. Lembremos o fim do mesmo Evangelho (Lc 9, 57-62): “Quem olha para trás, depois de deitar a mão ao arado, não é apto para o Reino de Deus.”. Andamos à procura dum sítio onde reclinar a cabeça? Dizemos “sim” e depois corrijimos e dizemos “não” ou “talvez”? Como tenho seguido Jesus? Qual é o nosso pouco que podemos dar a Deus para Ele tornar maior? Que passos precisamos de dar para chegar mais perto d’Ele? Como nos temos desprendido para nos enamorarmos?
Liliana Nabais